Conselheirismo


"Aí eu perguntei: ‘papai, e Antônio Conselheiro, pra onde ele foi? Que fim teve ele?’ — ‘Pra isso, minha fia, não tem explicação. Isso ninguém sabe... Ninguém sabe lhe dar essa explicação. Porque Antônio Conselheiro, dizem que ele desapareceu. Veio uma beija-flor, contam que aquela beija-flor deu um sinal pra ele, e ele desapareceu. Ele não foi morto na guerra’, meu pai falou bem assim. [...] Aí eu falei bem assim, cheguei aqui e fiz a mesma pergunta, eu falei: ‘Meu vô, eu vou te fazer uma pergunta, o que aconteceu com o Conselheiro?’ Aí ele falou: ‘Essa é a pergunta mais importante que as pessoas perguntam. Ói, minha fia, Antônio Conselheiro, assim, quando ele viu tanta coisa terrível da guerra, ele se sentiu muito pressionado com aquilo ali, ele adoeceu. E desse problema que ele teve, ele... entrou uma beija-flor e dali ele desapareceu. Ele foi levado por algo, alguma coisa, que ninguém viu pra onde ele foi.'"

Dona L., em entrevista concedida a Dila Reis no dia 18 de novembro de 2019 em Canudos (BA).


Fé, 2019
Canudos-BA
Foto: Dila Reis
Da coleção de: Dila Reis

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Luta e Resistência, 2019
Música: A História Fará sua Homenagem, Gereba
Montagem e imagens: Dila Reis
Da coleção de: Dila Reis

[Sugestão: Dê o play no vídeo e navegue pelas imagens e relatos abaixo com a música de fundo]
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"Olhe, Antônio Conselheiro foi a figura paterna de todo canudense. Veio aquele problema de... Ele queria igualdade pra todos. Quando veio, chegou a Belo Monte, né, tirando muitos trabalhadores dos latifundiários, dos empresários... aí causou a guerra porque realmente aquele povo sofrido, viu ali a esperança em Antônio Conselheiro. A gente seguia, o pessoal seguia Antônio, né, como tinha... todo mundo tinha sua liberdade né, que é o que ele queria pra todo mundo. Aquele problema da guerra foi mais o imposto, pra ninguém pagar imposto, porque realmente a gente paga tanto imposto que... na época, né, o pessoal que seguiu Antônio... Antônio era um santo pra todos os canudenses, era uma figura paterna, como eu falo. E aí aonde ele passava tirava trabalhador, a mão de obra dos empresários, aí acho que foi aí onde foi causada a guerra. E Antônio, pra todo canudense, você ainda escuta alguém criticar e tudo, mas eu acho que não teria outra pessoa melhor no momento pra aliviar o sofrimento daquele pessoal trabalhador, dos escravos praticamente que vivia sofrendo. Então por isso que eu falo que Antônio Conselheiro foi uma figura paterna pra todos nós canudenses."

B., em entrevista concedida a Dila Reis no dia 02 de dezembro de 2019 em Canudos (BA).


Antônio, 2018
Canudos-BA
Foto: Dila Reis
Da coleção de: Dila Reis


Dona Duru: [...] Eu mesmo, eu era revoltada com Antônio Conselheiro! Era! Era, quando eu era jovem, eu falava: ‘Ah, Antônio Conselheiro nada! Antônio Conselheiro, por causa de uma pessoa dessa haver tanto derrame de sangue, por causa de uma pessoa!’ Eu era revoltada, eu não gostava dele de jeito nenhum!

Dila: E aí mudou? 

Dona Duru: Mudou! E como mudou, minha filha! [...] Eu fiz as pazes com Antônio Conselheiro, minha fia, depois que chegou as irmã aqui em Canudos. Aí, minha fia, a gente foi descobrindo.

Dona Duru, em entrevista concedida a Dila Reis no dia 19 de novembro de 2019 em Canudos (BA).


Conselheiro, 2018
Canudos-BA
Foto: Dila Reis
Da coleção de: Dila Reis

"Ser conselheirista é não perder a fé, não perder as estribeiras, não desistir, não renunciar aos princípios, e acreditar que há uma esperança. Acho que é não desistir, [...] é acreditar em uma vida melhor, mais digna, livre da opressão, dos mandos e desmandos. Acredito que o conselheirismo seria tudo o que nutria o sentimento de luta e resistência, que alimentava o pensamento de uma utopia de algo impossível, mas que estava sendo vivido ali no Belo Monte. [...] Acredito que o conselheirismo fosse isso, é o que nutre esse sentimento. Ser conselheirista hoje é tudo isso."

João Batista, em entrevista concedida a Dila Reis no dia 12 de novembro de 2019 em Canudos (BA).


Oratório, 2018
Canudos-BA
Foto: Dila Reis
Da coleção de: Dila Reis


Reunião de organização das Romarias, 2019
Canudos-BA
Foto: Dila Reis
Da coleção de: Dila Reis


Celebração,  Romaria de 1992
Canudos-BA
Foto: Desconhecido(a)
Edição e Tratamento: Pedro Cavalcanti Santos
Da coleção de: Instituto Popular Memorial de Canudos


"Então você vai percebendo que é [Antônio Conselheiro] um predestinado a cuidar de pessoas, pessoas essas que eram pessoas excluídas da sociedade, e que eram dominadas pelo coronel, pelo latifúndio. E a partir de uma certa época, que quando esse Conselheiro que vai aparecer no sertão de Sergipe, né, nos idos de 1874, já com um grupo de pessoas ao seu redor... E é um Conselheiro que... ativo, que trabalha. Mas que trabalha coletivamente. Coletivamente. Você vê que ele vai reformar cemitério, construir igreja, fazer pequenos tanques, açudes... E à medida que esse Conselheiro vai atuando as pessoas vão chegando. Vão se aglomerando ao seu redor, né."

João Ferreira, em entrevista concedida a Dila Reis no dia 26 de novembro de 2019 em Canudos (BA).


Oração,  Romaria de 2006
Canudos-BA
Foto: Desconhecido(a)
Edição e Tratamento: Pedro Cavalcanti Santos
Da coleção de: Instituto Popular Memorial de Canudos


Fé e Luta,  Romaria de 1997
Canudos-BA
Foto: Ir. Cirila Zambom
Edição e Tratamento: Pedro Cavalcanti Santos
Da coleção de: Instituto Popular Memorial de Canudos


Força Sertaneja,  2004
Canudos-BA
Foto: Desconhecido(a)
Edição e Tratamento: Pedro Cavalcanti Santos
Da coleção de: Instituto Popular Memorial de Canudos


"Quer dizer, Canudos é tudo isso, o que as pessoas têm que aprender é isso, porque são esses valores que Antônio Conselheiro pregava. Porque se reunia as pessoas tudo em volta? Por causa disso. [...] Então esse homem representa pra mim, esse homem me ensinou a busca por justiça e por igualdade. Esse homem me ensinou que eu tenho que olhar o outro irmão com respeito, seja da criança até uma anciã. Esse homem me ensinou que a caridade está acima de qualquer coisa, e a gratidão. Antônio me ensinou a lutar. Antônio me ensinou a olhar as coisas e dizer: ‘isso tá errado’, reivindicar direitos, cobrar aquilo que é meu de direito. Justiça, igualdade. Antônio revelou ao mundo, principalmente ao Brasil, o outro Brasil. O Brasil real. Foi Antônio que falou."

José Américo Amorim, em entrevista concedida a Dila Reis no dia 29 de novembro de 2019 em Canudos (BA).


Alto da Favela, 2019
Canudos-BA
Foto: Dila Reis
Da coleção de: Dila Reis

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