Gente


"[...] a gente não pode olhar pra Canudos e simplesmente dizer 'ah, coitado, morreu 25 mil sertanejos.' Primeiro, eu detesto quando alguém vem 'ah, os bichinho...' Não! Não é bichinho, são figuras fantásticas, maravilhosas, guerreiras, filhos da luta da resistência, que lutaram contra o sistema opressor, cara! Que falou não ao sistema escravocrata! Então você tem que olhar pra essas pessoas com um olhar sim diferenciado, e dizer 'poxa, que maravilha esse povo!' E não coitado, que coitado, não me chame de coitado que eu não gosto! Diga 'pô, que cara retado, aquele povo!' Joga pra cima, e absorva essa energia desse povo e faça alguma coisa! Essa que é a questão!" 

José Américo Amorim, em entrevista concedida a Dila Reis no dia 29 de novembro de 2019 em Canudos (BA).

Gente, 2000
Canudos-BA, Brasil
Foto: Desconhecido(a)
Da coleção de: Instituto Popular Memorial de Canudos
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E faça alguma coisa!, 2019
Fala de José Américo Amorim em Canudos-BA
Montagem e imagens: Dila Reis
Da coleção de: Dila Reis

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Crianças no Alto Alegre, 1994
Canudos-BA, Brasil
Foto: Desconhecido(a)
Da coleção de: Instituto Popular Memorial de Canudos


Saudação, [19--]
Canudos-BA, Brasil
Foto: Desconhecido(a)
Da coleção de: Instituto Popular Memorial de Canudos


"A minha avó teve a sua tia ferida dentro dos combates de Canudos. E qual é o orgulho que eu tenho de passar isso para o meu povo? Sabe qual é? A nossa imensa fortaleza, que nós somos. A nossa resistência. De homens e mulheres dignos, fortes, que dão exemplo de igualdade e justiça. Como até hoje em qualquer lugar do sertão que você chegue. Na casa mais simples que você chegar, há sempre uma porta aberta pra você. E há sempre um prato à mesa pra dividir, o pouco que tem."

José Américo Amorim, em palestra proferida no dia 13 de março de 2020, no Seminário Antônio Conselheiro: 190 anos de memória, realizado em Salvador – BA.

Pescaria, 1994
Canudos-BA, Brasil
Foto: Ir. Cirila Zambom
Da coleção de: Instituto Popular Memorial de Canudos


Na beira, 1994
Canudos-BA, Brasil
Foto: Ir. Cirila Zambom
Da coleção de: Instituto Popular Memorial de Canudos


No meio, [19--]
Canudos-BA, Brasil
Foto: Ir. Cirila Zambom
Da coleção de: Instituto Popular Memorial de Canudos


"Foi meu fio, quem presenciou a guerra, nossos pais, nossos avôres... E se fala assim, será que ainda resta gente da guerra? Olha meu fio, na verdade, existe assim, mais novos, nós, que eu vou fazer 60 anos, vejo os meus que nem eu vi meu pai contando as histórias, meus avô... A gente era curioso pra saber, eu principalmente sou curiosa pra saber das coisas! Eu procurava meu pai e ele tinha aquele prazer de explicar as coisas pra mim. Porque na verdade, eu aprendi a ler sem estudar. Eu estudei o primeiro ano. Eu já nasci lendo um livro, já sendo a escola..."

Dona L., em entrevista concedida a Dila Reis no dia 18 de novembro de 2019 em Canudos (BA).

Vaqueiro, 1997
Canudos-BA, Brasil
Foto: Pe. Dither
Da coleção de: Instituto Popular Memorial de Canudos


"E eu me lembro de uma coisa interessante, eu aprendi a olhar Canudos, o meu povo, através do meu povo. Não foi através de escritores de lá de fora. Eu comecei a ver Canudos a partir do olhar e dos relatos de pessoas que eram, que beberam a história oral, que eram descendentes diretos dos sobreviventes, que passaram... Dona Isabel, Dona Zefinha, Paulo Monteiro, João Régis, Zé de Isabé, morreu com 103 anos ali no Riacho de Pedra... São personagens que foram me enchendo desde menino."

José Américo Amorim, em entrevista concedida a Dila Reis no dia 29 de novembro de 2019 em Canudos (BA).

Mesmo vaqueiro, 1997
Canudos-BA, Brasil
Foto: Pe. Dither
Da coleção de: Instituto Popular Memorial de Canudos


Mulher com vaso d'água, 1997
Canudos-BA, Brasil
Foto: Pe. Dither
Da coleção de: Instituto Popular Memorial de Canudos


"Tem pessoas, assim, que têm muito medo de falar de Canudos. João de Régis nos dizia, que é um grande mestre, eu costumo dizer que nossos grandes professores foram esses meninos, essas meninas... João de Régis, Maria Avelina, Pedrão, Manoel Ciriaco, porque eles desconstruíram todo o discurso de 50 anos da gaiola de ouro do senhor Euclides da Cunha, que foi contado sempre na ótica dos vencidos. Os vencedores eram jagunços, malandros, criminosos, etc... João de Régis vai nos legar uma frase clássica, quando a gente dizia assim “Ô seu João, porque essa guerra?” ... “Meu filho, em Canudos só faltou uma conversa."

João Ferreira, em entrevista concedida a Dila Reis no dia 26 de novembro de 2019 em Canudos (BA).

João de Régis, 1993
Canudos-BA, Brasil
Foto: Salgado Filho
Da coleção de: Instituto Popular Memorial de Canudos

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Só faltou uma conversa, 2019
Fala de João Ferreira em Canudos-BA
Montagem e imagens: Dila Reis
Da coleção de: Dila Reis

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